Olá, esse é um conteúdo exclusivo destinado aos nossos s
Cadastre-se GRATUITAMENTE ou faça seu e tenha o:
Até 5 conteúdos
fechados por mês
Ficar por dentro dos cursos e
eventos do CanalEnergia
Receber nossas newsletters e
mantenha-se informado
sobre o setor de energia.
Notícias abertas CanalEnergia
ou
Já sou cadastrado,

“Por que só essa turbina está girando?” Foi a primeira coisa que pensei enquanto avistávamos de longe os primeiros aerogeradores do complexo Pedra Pintada. Era um sábado de sol, nuvens e muito vento em uma estrada de chão batido na altura de Ourolândia (BA), próximo ao extremo norte da Chapada Diamantina.

A explicação veio do presidente da Enel Green Power no Brasil, o italiano Bruno Riga. O parque não estava gerando energia, a partir de um ofício enviado pelo Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS). “Com Pedra Pintada consolidamos a liderança na geração eólica no país, mas infelizmente estamos num momento de transição com o curtailment”, disse o executivo em conversa com jornalistas após o evento que marcou a inauguração oficial da usina no último sábado (07).

Riga informou que os cortes vêm acontecendo desde a sincronização do parque, que começou a escalonar sua operação comercial desde agosto do ano ado. O padrão tem acontecido geralmente de segunda a sexta, entre 8 horas e 18 horas, por uma questão de transporte da transmissão, no horário em que o sistema tem mais energia do que precisa. E sábado e domingo praticamente a maior parte do tempo, por falta de demanda.

“A Bahia é o estado que mais temos impacto do curtailment, com o sistema não tendo capacidade de exportar toda energia produzida e do crescimento da geração distribuída, o que explica os maiores impactos nos parques solares”, aponta o executivo, informando que o fenômeno que traz um efeito de 11% em Pedra Pintada pode atingir 30% e 35% em dois parques solares da companhia na região.

Complexo Pedra Pintada vem sofrendo cortes de geração para equilíbrio do sistema elétrico praticamente todos os dias (Henrique Faerman)

“Acontece em várias partes do mundo, mas o Brasil perdeu seu equilíbrio nos últimos anos, com atrasos nas linhas de transmissão e a geração distribuída formando a tempestade perfeita”, complementa, prevendo um pico de impacto nos próximos três a quatro meses devido a entrada da safra dos ventos e diminuição da demanda local, evidenciando ainda mais os efeitos dos limites de escoamento da energia.

“Curtailment mata os projetos”

Segundo Riga, a média dessa geração frustrada no setor elétrico brasileiro atualmente é de 15%, ando de um fenômeno residual em 2023 para o grande problema do setor em 2024 e nesse ano. “Estamos numa fase em que é preciso olhar todo o sistema. Quando a demanda é alta, como em janeiro, temos curtailment e depois precisa da geração térmica para cobrir o pico da tarde”, afirma.

Ele ressalta a necessidade de uma análise mais profunda para encontrar o melhor equilíbrio entre todas as tecnologias, vendo um espaço importante para as baterias como possibilidade da empresa seguir fazendo investimentos no país. “Hoje, com as condições de preço, já é muito complicado fechar novos projetos. Ninguém quer correr esse risco, de ter 15% a 20% de curtailment, o que ‘mata’ completamente os projetos para o próximo ano”, comenta Bruno.

O presidente da Enel Brasil, Antonio Scala, que também participou da conversa, pontua ser preciso encontrar as soluções técnicas que reduzam esse fenômeno da forma mais rápida possível, e econômicas para gerenciar os impactos que colocam em xeque os novos projetos. “Também existe toda uma ação jurídica setorial para ter a recuperação das perdas e superar os impactos que pode haver no longo prazo”, destaca.

No caso da Enel, os cortes de geração nos projetos eólicos e solares tem postergado o retorno dos aportes já realizados, numa média de cinco anos a partir da projeção inicial, que gira em torno de dez a 15 anos. “Depende do parque, ponto de conexão, do nível do curtailment”, pondera Bruno Riga, afirmando que empresas podem chegar ao fim da vida útil de uma usina e não ter recuperado o investimento.

Cerimônia teve presença do governador do estado, Jerônimo Rodrigues (PT), do senador Jacques Wagner (PT-BA), do deputado João Carlos Bacelar (PV-BA), além prefeitos e vereadores da região 

Pedra Pintada

A implementação do complexo Pedra Pintada, de 194 MW entre 43 aerogeradores de 4,5 MW da Vestas, reuniu um aporte de R$ 1,8 bilhão, oportunizando ainda a criação de 6 mil postos de trabalho com mão de obra local. Bruno Riga disse que o parque conta com a melhor tecnologia em suas turbinas, com uma performance que pode gerar fatores de capacidade na ordem de 60% e 65%.

A Bahia representa a segunda maior potência instalada da Enel no Brasil, com 1,9 GW em operação de um total de 6,6 GW (3,5 GW eólicos, 1,8 GW solar e 1,3 GW de hidrelétricas). Ao todo, a empresa reporta ter aplicado mais de R$ 14 bilhões no estado entre seus nove complexos eólicos e dois solares. Com Aroeira tendo sido a última inauguração antes de Pedra Pintada.

Baterias em eólica

Questionado sobre hibridização de parques com baterias, o presidente da EGP no Brasil itiu que a companhia vem estudando essa possibilidade em suas eólicas, e que alguma novidade pode surgir entre as nove instalações da fonte que possui na Bahia. Também salientou que o leilão de capacidade provavelmente não deva acontecer nesse ano, e que assim como a eólica e solar, é preciso um incentivo para introdução das baterias como ex-tarifário, com cada estado devendo procurar a forma de subsidiar também a importação de equipamentos.

“Tem muita oferta no mercado de storage mas para chegar ao Brasil ainda é custoso desde o ponto de vista de taxas até a implantação”, analisa, acrescentando não existir conversas da empresa sobre o assunto com o Ministério do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços.

*O repórter viajou a convite da Enel

Saiba mais:

Curtailment caminha para insustentabilidade, afirma FL Energia

Curtailment impacta resultado da Serena em R$ 30 milhões

ONS: “não cortamos porque queremos, mas o necessário para o sistema”